Saúde
O lado alternativo oferecido pelo SUS
Permitidas desde 2006, Práticas Integrativas e Complementares (PICs) são oferecidas em Pelotas apenas na Unidade Cuidativa da UFPel
Jô Folha -
As Práticas Integrativas e Complementares (PICs) estão há 12 anos presentes no Sistema Único de Saúde (SUS). A política nacional foi iniciada em 2006, contando atualmente com 29 práticas. Em março deste ano, uma portaria incorporou outras dez possibilidades no cardápio. Porém, para estes cuidados terapêuticos serem postos em práticas, cada município pode aplicá-lo de acordo com sua prioridade. E em Pelotas, apenas um lugar oferece esta possibilidade: a Unidade Cuidativa da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), localizada no prédio da antiga Laneira, na avenida Duque de Caxias, 114, em Pelotas.
Julieta Fripp, coordenadora da Unidade Cuidativa, que oferece tratamentos paliativos a pacientes com doenças crônicas, explica que atualmente 12 PICs são aplicadas no espaço. Segundo ela, o público em geral com doenças crônicas e pessoas próximas a ele podem utilizar-se das práticas lá oferecidas, com o principal efeito sendo ajudar os pacientes a sentirem-se bem, aliviando totalmente suas dores, sejam elas físicas, emocionais, espirituais ou de qualquer outro tipo.
Dos cerca de 500 atendimentos atuais da Cuidativa, 200 são PICs. Levados através de projetos de extensão de professores da UFPel, trabalhos de técnicos e de voluntários, ela recebe pacientes da rede municipal, mas Julieta pretende contratualizar no próximo ano, para receber retornos e mostrar a importância destes cuidados com os pacientes. A ampliação de opções também é vista como um objetivo a curto prazo. As PICs são para a coordenadora uma valorização do saber popular, proporcionando qualidade de vida, sendo utilizadas em conjunto com a aloterapia (medicina tradicional).
Vendo sua vida melhorar
A focalizadora, espécie de instrutora, de dança circular na cuidativa, Eliane Pederzolli, diz que a dança é uma das atividades desenvolvidas desde o ano passado. Com músicas, ritmos e culturas de todas as origens, o grupo trabalha coordenação, memória, psicomotricidade e equilíbrio, entre outros fatores. De mãos dadas, aprendem a socializar e sentir-se seguros uns com os outros. “Acreditamos na importância de todos. É gratificante ajudar as pessoas a lidar com as dores”, celebra.
Noeli Schultz, esposa de um paciente tratando um câncer, faz parte do grupo de arteterapia. Como ela, muitas outras pessoas utilizam-se deste espaço para formar uma família. “Só de vir aqui a gente já sente o calor humano”, comenta. E esta família é vista em todos os sentidos. Através de brechós com os produtos produzidos, almoços de domingos, seja na Cuidativa ou nas casas uns dos outros, eles juntam-se praticamente todos os dias.
Os pacientes participam também. Laura Tuchtenhagen, enquanto lida com o câncer, frequenta diversas práticas. “Melhorei bastante. Esqueci as coisas ruins da vida”, comemora. Assim como ela, Odilon Domingues lida com o Parkinson utilizando o apoio do grupo. “Eu participo de tudo!”, exclama, mostrando o avanço que teve ao praticar dança, ginástica e acupuntura. Através das terapias comunitárias integrativas, é também possível lidar com a dor. Com diversos subgrupos, o luto é uma das formas abordadas. É o caso de Ivonete Santos, que se viu sozinha há cerca de um ano - quando perdeu o marido após 38 anos juntos. Ou Cleusa Moraes, que perdeu o filho ainda jovem em um acidente. Além das conversas, participam da arteterapia e ambas definem o grupo como o fator que lhes fez conseguir continuar com a vida após perdas marcantes.
Rede municipal não oferece a opção
A titular da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Ana Costa, confirma que não há nenhuma PIC implementada no município. Como política, ela diz que houve um estudo em 2007, após a primeira portaria do SUS, mas pela falta de profissionais na rede não foi possível implementar a medida. “Como serviço, ainda precisamos avançar. Pessoal é o nosso maior problema”, lamenta.
A diretora de Ações em Saúde da SMS, Eliedes Ribeiro, diz que é necessária a contratação completa, com especialistas em cada área. Atualmente, profissionais de duas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) estão recebendo formação na prática do Reiki - PIC feita para estimular mecanismos naturais de recuperação da saúde através do toque ou aproximação - para aplicar em um projeto-piloto. Porém, casos como a homeopatia, de manipulação complexa, precisariam de maior estruturação. No entanto, ela garante que há o interesse em aplicar e estudos devem ser feitos em breve para verificar a possibilidade. O presidente do Conselho Municipal de Saúde, Luiz Belletti, diz que já houve posicionamento favorável à implementação. “Temos pessoas que necessitam. Mas seria preciso ter também na Farmácia Municipal, ou convênio com farmácias, como no caso da homeopatia”, complementa.
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